A professora universitária Socorro Pena (PT) interrompeu este ano, por algum tempo, sua tentativa de conseguir um doutorado pela Unicamp para tentar estimular as bases petistas a readquirirem a autoestima perdida depois da derrota de 2012 e diante do cenário nacional que devassa a sigla liderada pelo companheiro Luís Inácio Lula da Silva. Como antiga militante petista – dos tempos em que era pupila do padre Edilberto Sena e consolidou um discurso ambientalista ao ajudar a criar ONGs como GDA e Ceapac (ambas sem maior expressão no cenário local atualmente) – Socorro mudou um pouco sua trajetória no PT ao se casar com o médico Everaldo Martins e anulou-se como liderança de vanguarda para participar do projeto de ascensão da cunhada Maria do Carmo como nova liderança regional petista, a partir de meados dos anos 1990. Agora, com os Martins mais enfraquecidos no cenário local, atendeu ao apelo de sua tendência, a Unidade na Luta (UL), e lançou sua pré-candidatura à Prefeitura de Santarém.
Desde o ano passado, vem acompanhando a desistência, um a um, de outros pretensos candidatos do partido ao mesmo cargo: primeiro, seu ex-cunhado, o médico Carlos Martins, teria sido convencido a renunciar, estrategicamente, pela mesma tendência, em seu favor; depois foi a vez do deputado Airton Faleiro, da tendência Construindo um Novo Pará (CNP), também se retirar por não encontrar eco às suas intenções nem mesmo em seu grupo; por fim, a adversária que poderia dar mais dor de cabeça, a professora universitária Lucineide Pinheiro, da Democracia Socialista (DS), candidata derrotada em 2012, também se retirou alegando decisão de cunho pessoal. Seu grupo, ao que parece, decidiu não lançar outro nome, acreditando no compromisso de Socorro de manter uma postura à esquerda e sem influência dos Martins.
As desistências evitaram a realização das chamadas “consultas prévias”, processo interno desgastante do partido, que começou a ser abolido nos últimos anos, até de forma truculenta, por Lula, para que ele ou outros líderes regionais pudessem indicar quem o grupo majoritário do partido achar melhor para ser representante dos ideais petistas em determinadas eleições, mesmo que de outro partido. Foi o caso de Dilma para a sua sucessão, e de Haddad para a prefeitura de São Paulo ou ainda de Alexandre Padilha para o governo paulista, dos quais Lula foi padrinho. No Maranhão, Lula conseguiu levar parte do PT para apoiar os Sarney em 2014, e viu a derrota por um de seus principais aliados no cenário nacional, o PCdoB. Em 2014, o petista usou do mesmo expediente no Pará, ao “enquadrar” os petistas a engolirem a candidatura do aliado Barbalhinho para o Governo, para concentrar as forças na eleição de Paulo Rocha para o Senado, tática que teve sucesso parcial e grande desgaste político, principalmente em Santarém por obrigar petistas a conviverem com seu maior adversário, Lira Maia.
Há quem diga que o mesmo deve ocorrer este ano nas eleições municipais. Paulo Rocha esteve no “lançamento oficial” de Socorro em reunião com várias lideranças partidárias na semana passada, mas em nenhum momento falou da candidatura dela. Apenas defendeu a sigla que vem sendo atacada pela mídia nacional. No mesmo evento, os Martins (Maria do Carmo, Everaldo et caterva) estrategicamente sumiram para deixar Socorro assumir seu papel de “boi de piranha” e amansar a militância petista. Mas no final do encontro, o médico Carlos Martins chegou ao local e teve sua presença várias vezes registrada pelos organizadores.
Mas foi outro Rocha, o do PMDB que deu a senha no encontro petista: “quem estiver melhor nas pesquisas, será candidato desse bloco”. Só após a saída de Helder do cenário local é que Paulo Rocha falou, em entrevista coletiva, sobre o processo interno de escolha do candidato do PT nas eleições de 2016, quando o nome de Socorro foi citado como candidata. Paira no ar que o nome de Socorro não seja definitivo e que Carlos Martins possa ser uma alternativa para futuras composições. E tudo começou quando a ex-prefeita Maria do Carmo (PT), no ano passado, anunciou publicamente que quer ser vice do Barbalhinho em 2018, o que estraga os planos de sua ex-cunhada de construir uma alternativa fora das garras peemedebistas, o que pode contribuir para um desmantelamento das bases do PT, principalmente aquelas que apostavam na candidatura Lucineide.
A encruzilhada petista deve continuar pelos próximos meses. A militância clama por uma guinada à esquerda, mas os Martins e seus aliados de “rocha”, vão continuar com a barba(lho) de molhO.
Coadjuvantes buscam luz própria
Dos 35 partidos existentes no Brasil pelo menos 32 podem estar organizados até março deste ano para participar das eleições locais. E caso o recadastramento ultrapasse as expectativas e alcance os 200 mil eleitores, um segundo turno, com certeza, ocorrerá em Santarém, pois dificilmente qualquer dos atuais pré-candidatos conseguirá 50% + 1 dos votos na atual conjuntura, mesmo que se reúnam em duas ou três coligações. Alguns partidos podem até questionar o TSE sobre a possibilidade de manter o número de eleitores que já estavam cadastrados antes da biometria, para que a possibilidade de segundo turno seja mantida, mas dificilmente tal pedido encontrará eco na Justiça Eleitoral.
Além dos pré-candidatos já citados, existem outros nomes que vem sendo lançados desde o ano passado por várias legendas. Esse lançamento é natural e faz parte do jogo político. Todos os partidos lançam suas figuras de proa, na esperança de que elas cresçam e consigam entrar no jogo político. No mínimo para compor uma coligação como vice ou, pelo menos, ser um nome com condições de disputar uma vaga na Câmara Municipal. E cada um usa de estratégias de marketing para popularizar seus nomes pelas redes sociais e pelos diversos blogs noticiosos.
Há também o processo de sedução e aliciamento de legendas menores, cujas lideranças precisam de apoio logístico para sobreviver. Em alguns casos, as legendas pulam de candidato a candidato, num processo desgastante de negociações envolvendo inclusive aportes financeiros, o que acaba denominando-as de “siglas de aluguel”. Ao final, em muitos casos, são os líderes partidários estaduais que definirão o posicionamento de sua “matriz”, dependendo de acordos feitos na capital.