sexta-feira, 4 de março de 2016

A CASA CAIU. FOTOS MOSTRAM VISITA DE LULA PARA ENTREGA DE CHAVES NO TRIPLEX NO GUARUJÁ JUNTAMENTE COM O DIRETOR DE INCORPORAÇÃO DA OAS E LÉO PINHEIRO, EX-PRESIDENTE DA OAS

Lula aparece ao lado de Roberto Moreira, diretor de incorporação da OAS, e Léo Pinheiro, 
ex-presidente da OAS

O Instituto Lula, por meio de uma nota divulgada em janeiro, já admitiu que o ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva esteve no triplex do Guarujá antes do apartamento ser reformado, em companhia da esposa, dona Marisa, e de Léo Pinheiro, sócio da empreiteira OAS. Um funcionário da OAS, em depoimento ao Ministério Público, afirma que se tratou de uma visita para entrega de chaves do apartamento. O Jornal Nacional teve acesso a fotos que mostram, pela primeira vez, Lula fazendo pessoalmente essa vistoria no apartamento.

As fotos são o registro de uma visita ilustre. Pela porta entreaberta, em uma das imagens, é possível ver o encontro do ex-presidente Lula com o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, que aparece de costas.

Em outra foto, além de Leo Pinheiro, logo atrás de Lula, também aparece o diretor de incorporação da OAS, Roberto Moreira. Quando a imagem é aproximada é possível ver o número do apartamento vizinho – o 163.

O apartamento onde está o ex-presidente Lula é o 164-A, do Condomínio Solaris, em Guarujá, que está sendo investigado pela Operação Lava Jato e pelo Ministério Público Estadual de São Paulo.

A visita já foi admitida pelo Instituto Lula, em nota em que confirma que o ex-presidente esteve na unidade 164-A, um triplex de 215 m2, em uma "única ocasião", em 2014, acompanhado da mulher, Marisa Letícia, e de José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, sócio da OAS.

A foto, tirada do hall de acesso aos apartamentos, registra uma vistoria padrão de entrega de chaves, segundo depoimento aos promotores paulistas dado por Wellington Carneiro da Silva, que na época era o assistente de engenharia da OAS, incumbido de fiscalizar as obras do Edifício Solaris.

Wellington Silva também fazia as vistorias de entregas das chaves aos novos proprietários. No dia em que a foto foi tirada, ele teria sido convocado para entregar a cobertura 164-A do Edifício Solaris. No depoimento, ele disse que o imóvel estava em nome da OAS, mas que sabia que a família que moraria no apartamento seria a do ex-presidente Lula.

Wellington Silva diz que chegou a receber Lula e Marisa Letícia no condomínio, mas que foi o coordenador de engenharia da OAS, Igor Pontes, quem apresentou as áreas comuns ao casal.

Para que ninguém subisse, ele ficou segurando o elevador, enquanto a família Lula visitava o triplex. A cobertura foi entregue crua, sem nenhum acabamento ou melhoria, como dá para ver nas fotos. O chão está só no contrapiso.

Investigação

O Ministério Público de São Paulo investiga irregularidades na construção e venda dos apartamentos do condomínio Solaris. Os promotores paulistas suspeitam que a OAS tenha reservado o imóvel para o ex-presidente Lula e a família dele. E que o ex-presidente tenha comprado o triplex. Pelo menos 100 pessoas já foram ouvidas nas investigações em São Paulo, entre elas moradores, corretores e funcionários do prédio.

O empreiteiro Armando Dagre Magri, um dos donos da Tallento Construtora, também prestou depoimento. Nesta quinta-feira (3), ele falou com exclusividade ao Jornal Nacional. A Tallento é uma empresa de engenharia civil, com 27 anos no mercado, especializada em reformas e montagem de apartamentos decorados para incorporadoras.

Segundo Armando Magri, a empresa foi contratada pelo coordenador de engenharia da OAS, Igor Pontes, para fazer a reforma no triplex. Ele afirma que o apartamento foi praticamente refeito. As reformas consistiam em mudança de layout, troca de pintura, piso, elétrica, hidráulica, refazer a piscina e até colocar um elevador.

“Era um triplex. A OAS falou ‘vamos mudar esse elevador para ficar mais tranquilo, subir, descer, apto de praia, mas, assim, já coloquei elevador em estande de vendas...”, afirmou Magri.

A reforma custou R$ 770 mil reais e foi paga pela OAS. O dinheiro é recebido por transação bancária, via nota fiscal. Magri conta que a reforma ocorreu entre abril e setembro de 2014. Na reunião com os engenheiros da OAS para apresentar o resultado da reforma, entraram no apartamento dona Marisa Letícia, o filho dela, Fabio Luís, o engenheiro da OAS Paulo Gordilho e o então presidente da construtora, Léo Pinheiro.

“A primeira coisa que ela [Marisa] falou foi que gostou muito da vista. Nossa, realmente vista linda. Foi onde ela mais se apegou”, disse Magri.

Marisa e o filho teriam ficado 40 minutos no imóvel. “Eles estavam visitando o apartamento, pelo que eu entendi. Estavam mostrando. O Paulo Gordilho falando um pouco da obra, que na piscina fizeram esse serviço, falando muito de política, né. Era um mês antes da eleição”, afirmou Magri.

Além da reforma completa no apartamento 164-A, realizada pela Tallento, a OAS está sendo investigada pela compra de uma cozinha planejada, no valor de R$ 78,8 mil e instalada no apartamento do Guarujá.

“Antes de eles chegarem, na hora em que a gente bateu o cronograma, os engenheiros falaram entre eles: agora a gente precisa ver como que vai finalizar com a parte dos móveis. Citaram a Kitchens” afirmou Magri.

Outra investigação do Ministério Público de São Paulo é sobre a propriedade de um sítio em Atibaia, interior do estado, e as obras que teriam sido feitas nele por construtoras envolvidas na Lava Jato.

A defesa do ex-presidente enviou um ofício ao MP paulista na segunda-feira (29), onde pede que Lula preste depoimento sobre o caso a uma autoridade que, segundo o pedido, seja imparcial e dotada de atribuição. O documento foi enviado ao promotor Cássio Conserino, um dos responsáveis pela investigação, que tem sido acusado por Lula de ter antecipado o que faria na ação a uma revista.

No ofício, a defesa do ex-presidente declarou também que o sítio foi comprado no ano de 2010 por João Bittar, amigo da família de Lula há mais de 40 anos, com o objetivo de servir de ponto de encontro entre as famílias depois que Lula deixasse a presidência. Ainda segundo o ofício, o sítio também seria usado para guardar presentes que Lula recebeu durante os dois mandatos de Presidente da República.

Léo Pinheiro depõe

O ex-presidente da construtora OAS, Léo Pinheiro, condenado na Operação Lava Jato, depôs nesta quarta-feira (3) no Ministério Público de São Paulo. Ele se manteve calado o tempo todo durante o depoimento.

Igor Pontes, engenheiro da OAS que trabalhou na obra do Edifício Solaris, também esteve no MP-SP. Segundo os promotores, ele afirmou que não sabe se o ex-presidente Lula é dono do imóvel. Os advogados de Lula negam qualquer irregularidade e dizem que nem Lula nem a família dele são proprietários do imóvel.

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