segunda-feira, 30 de julho de 2018

EM DELAÇÃO PREMIADA AO MINISTÉRIO PÚBLICO, EX-VEREADOR REGINALDO CAMPOS, ENTREGOU COMO FUNCIONAVA O ESQUEMA DE "CARTAS MARCADAS" EM RELAÇÃO A LOCADORA BILL CAR. LEIA OS TRECHOS DA DELAÇÃO

Reginaldo Campos em sua delação 
no Ministério Público

Novos trechos da colaboração do ex-vereador Reginaldo Campos ao Ministério Público e Polícia Civil revelam como funcionava o esquema de “cartas marcadas” da locação de veículos à Câmara de Vereadores de Santarém, no oeste do Pará. As mídias fazem parte das investigações sobre o desvio de dinheiro público e corrupção no legislativo santareno. Os vídeos não estão mais sob sigilo de Justiça.

Reginaldo Campos é réu na Operação Perfuga e em janeiro deste ano falou aos promotores de Justiça Rodrigo Aquino e Maria Raimunda Tavares sobre o contrato de locação de veículos no período que estava na presidência da Câmara, no biênio 2015/2016. O interrogatório durou cerca de uma hora e o réu estava acompanhado da defensora pública Jane Amorim.

Trechos

O ex-vereador contou que tinha recebido do vereador Henderson Pinto (DEM), então ex-presidente da Câmara, a sugestão de manter o contrato com a empresa Bill Car que locava os veículos, pois a mesma já prestava o serviço.

“Essa empresa era como se fosse parceira no mandado dele. Entendi que era uma sugestão para que pudéssemos continuar. Eu visitei a empresa do seu Paulo Oliveira, onde eu pedi se ele podia fazer a mesma coisa que ele fez com o Henderson para ajudar em algumas situações financeiras que a gente precisava para atender a logística da casa”, disse.

Ainda segundo Reginaldo, "o empresário ficou de analisar a proposta. Depois de um tempo a locadora tinha autorizado o ex-vereador a colocar diárias a mais a nota fiscal e repassar o valor desviado em cheques".

Em outro trecho, o réu da Perfuga detalha ainda mais como foi a sugestão que o vereador Henderson Pinto tinha dado. Reginaldo contou que as informações sobre o esquema de desvio foram repassadas na transição de presidência. “Ele falou da relação que tinha com essa empresa e também como é que funcionava a Casa [Câmara], como se dava a estrutura. Aí ele me falou do Paulo”, contou.

Ao ser questionado pelo promotor sobre a manipulação das notas fiscais, Reginaldo informou que o vereador Henderson foi claro ao dizer como o esquema funciona, mas não especificou se tinha ficado com o dinheiro desviado enquanto era presidente da Casa Legislativa.

Acordo com a locadora

Logo no início do mandado de Reginaldo na presidência houve uma reunião entre ele e o empresário, na qual um acordo foi firmada e estabelecia que haveria um carro fixo a serviço da Câmara e outro veículo solicitado quando preciso. “A empresa pagava direito quando levava a ordem de serviço com as diárias a mais. Ele [empresário] nunca se opôs”, disse Reginaldo.

Para que a empresa ganhasse as licitações, havia direcionamentos para o resultado final. As documentações eram entregues e o setor responsável da Câmara já tinha recebido orientações sobre a empresa a ser licitada.

Desvio

Reginaldo contou ainda que recebia até R$ 5 mil a cada dois meses com o esquema de desvio do dinheiro da locação de carros. “Nem toda nota fiscal havia pagamento. Acabava que alguma ou outra demorava alguns meses a pagar e aquilo ia acumulando nos carros utilizados nas diárias. Havia mês que pagava e não era ressarcido nada. Mas, na maioria dos pagamentos havia devolução”, explicou.

No total, nesse período de dois anos, o dinheiro desviado será chega a R$ 50 mil. O recurso desviado, segundo Reginaldo, era usado para pagar contas pessoais e ajudar pessoas carentes. Ainda segundo ele, alguns vereadores também eram destinatários do dinheiro, como o ex-vereador Erasmo Maia, mas não tinham conhecimento da origem do recurso embora soubessem que não havia previsão orçamentária para os pedidos.

Posicionamentos

O vereador Henderson Pinto informou que ainda não vai se manifestar sobre a colaboração de Reginaldo Campos. Já o ex-vereador Erasmo Maia informou que vai se manifestar apenas quando tiver acesso aos vídeos.

O advogado do empresário Paulo Oliveira, dono da empresa Bill Car, disse que ainda não existe processo formal, pois está na fase investigatória. A Polícia Judiciária instaurou o inquérito para apurar as circustâncias, mas o empresário não foi notificado a prestar quaisquer informações sobre o caso, o que impede a defesa de se manifestar sobre o mérito. "Na hora que o processo for instaurado e a ampla defesa for oportunizada, nós vamos ter acesso a tudo o que consta no inquérito. Até o momento não há acusação, não existe denúncia formal", disse o advogado José Ronaldo Dias Campos.

JK com informações do G1

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