quinta-feira, 21 de novembro de 2013

DE QUEM É A CULPA DA MORTE DO EX-ATLETA SANTARENO QUE MORREU POR NÃO CONSEGUIR TRANSFERÊNCIA PARA O HOSPITAL REGIONAL?

Kaleu Caleb Lima era portador de uma doença rara, caracterizada por convulsões e degeneração neurológica progressiva. Caleb, que já foi Campeão Paraense de Karatê, deu entrada no Hospital Municipal de Santarém no dia 17 de setembro de 2013, após dois dias passando por fortes crises. De lá, não saiu com vida. Ele faleceu na madrugada desta quarta-feira (20). A família questiona o tratamento médico recebido pelo paciente, e dispara contra o Hospital Regional do Baixo Amazonas, que recusou, por duas vezes, a sua transferência.

O jovem tinha 25 anos. Aos 12, teve o diagnóstico positivo para a doença de Lafora. Na maioria dos casos, os portadores não resistem a mais do que uma década após os primeiros sintomas. A doença promove uma degeneração progressiva do sistema nervoso, o que causa sérios transtornos à pessoa, tornando-a incapaz de realizar atividades simples, como falar ou se mover.

Segundo o pai de Caleb, José Wilson Lima, o jovem passou os últimos meses de vida lutando para sobreviver, sem receber o tratamento adequado. No dia em que foi internado, 17 de setembro, não havia nenhum médico para fazer o atendimento. “Ele foi para a sala de emergência às 7h, e não tinha nenhum especialista. Ele foi muito mal medicado, muito mal assistido. Ele ficou o dia todo tendo convulsões, até a meia noite, sem que nenhum médico especialista o atendesse”. Nas semanas seguintes, de acordo com Lima, a situação só se agravou. “Ele ficou dois meses lá dentro. É muita gente, com poucas pessoas para cuidar. Estava lá simplesmente jogado, ninguém cuidava”.

Depois de um mês de internação, José Lima pediu uma autorização para levar alimentação para o filho, porque o paciente estava desnutrido. Ele também conta que até a medicação estava em falta no hospital. “Um médico que estava fazendo residência da Uepa disse que não tinha sido feito o exame de sangue por conta que ele não tinha tomado a dosagem do remédio na hora que era prescrito, porque não tinha remédio. Estava faltando, e por isso ele não ia fazer o exame”.

Vendo a situação precária com que Caleb era tratado, e preocupado com o estado de saúde do filho, que piorava a cada dia, Lima encaminhou duas solicitações de transferência (5 de outubro e 10 de novembro) para o Hospital Regional do Baixo Amazonas. No entanto, ambas foram negadas. “Ele estava abandonado no municipal. Se ele tivesse ido para lá, com certeza hoje ele estaria vivo”.

Ele alega que médicos do Hospital Regional não quiseram aceitar a transferência do jovem porque haviam “pacientes com mais chances de vida do que o Caleb”. E questiona, em prantos, a atitude. “Ele é Deus para dizer quem morre ou quem vive? Isso não é papel de médico, não. Todo mundo tem a mesma chance de viver. Foram eles quem lutaram para o Caleb não ir para o [Hospital] Regional”.

O pedido de José Lima era para que pudesse acompanhar o tratamento do filho mais de perto. Ele conta que não suportava o fato de não poder passar o tempo em que o filho mais precisava ao lado dele. “Foram dois meses eu vendo meu filho lá e não poder ficar com ele. Foram dois meses chegando lá e encontrando ele naquela situação, e não poder fazer nada. Eu saía de coração partido. Nas noites eu nem dormia, me lembrando da situação dele, naquele leito e não poder nem acompanha-lo. Eu saía de casa e dizia ‘vou entrar lá, e não vou sair’”.

Apesar de não poder ter estado ao lado do filho nos últimos momentos de vida, Lima nunca vai esquecer a alegria que Caleb deu a todos com quem conviveu. “Eu sabia o filho que eu tinha. Um filho precioso. Um menino bom, obediente, que respeitava todo mundo, que tinha uma vida pela frente”.

Explicações

Em nota, o Hospital Regional do Baixo Amazonas esclarece que o pedido de transferência foi recebido, mas após avaliação, foi observado que o paciente já estava recebendo todo atendimento necessário. Ainda segundo a nota, o Hospital Regional enfatiza que a assistência médica e técnica dispensadas ao paciente pelo Pronto Socorro Municipal foram as mesmas que seriam dadas pelos profissionais do HRBA.

O Hospital Municipal de Santarém, também em nota, informou que foram prestados todos os atendimentos ao paciente, e apesar de Caleb Lima não possuir perfil para transferência ao Hospital Regional do Baixo Amazonas, foram realizadas duas solicitações.

G1

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