quarta-feira, 8 de junho de 2011

O POETA DO TAPAJÓS

Céu escarlate

Às vezes penso, tenso, que o homem,  
Soberbo, orgulhoso, narcisista, qual  
Anjos decaídos..., desprezou o Verbo.

Disse o poeta: o crepúsculo está coalhado de sangue...
 
E está mesmo! A esmo e escondido dos cínicos  
Ainda contemplo as estrelas, o dourado das tardes  
Ventosas, as asas sempre acuadas... e cada vez  
Mais escassas...  
Faço-o, correndo o risco de ser escandalizado...

Se o ocaso está coalhado de sangue,
 
O verde está desbotado de sede,  
A sede do poder, a sede do domínio...  
As ruas e o chão estão coalhados de sangue  
A Terra, desvalida de sangue coagulado...  
O mínimo do mínimo faço, através dos versos,  
Que alguns verão ou ouvirão,  
E depois cuspirão praguejando...

Às vezes penso, tenso, que o homem,
 
Soberbo, orgulhoso, narcisista, qual  
Anjos decaídos..., desprezou o Verbo.

Será se já chegou a hora?
 
Ora, tudo indica que sim!  
A mim está claro como a mais angustiante  
Clarividência!  
Demência de poeta velho, dizem uns...  
Exagero – dizem outros – esse louco  
Fala demais!

Cultivo cultura e vivo pra cultuar
 
O que a humanidade, na sua insanidade,  
Debocha, apaga a tocha da mais  
Pura verdade...: a ruína da soberba humana!

O céu está escarlate... Não mais
 
Pro deleite da arte, mas, pro quebra-cabeça  
Das inteligências da cibernética, fechados  
Nos seus leitores, cuidando dos seus monstrengos e  
Dos seus diabretes alados...

Mas, o que fazer? Escrevo versos nus
 
Com tom visível de ingenuidade.  
Vou para os campos colher flores  
E para a praia contemplar o mar azul,  
Ouvir o bramido das suas vagas  
E sentir os odores dos amores  
Que um velho pescador  
Cria, por ser induzido a criá-los,  
Em face do fascínio à imensidão  
E o doce gosto da irrealidade!  


Do meu amigo e poeta Paulo Paixão

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