Alter do Chão
Uma pesquisa acadêmica da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém, oeste do Pará, feita no período de fevereiro a dezembro de 2014, apontou a existência de coliformes fecais em três pontos do rio Tapajós, na vila balneária de Alter do Chão. Segundo o estudo, que está em fase de conclusão, o mês de março foi o que teve maior quantidade de bactérias encontradas. No ponto que fica em frente a orla da vila, a cada 100 mililitros de água foram detectados 2 mil coliformes.
O estudo de qualidade microbiológica para classificação da balneabilidade como própria ou imprópria foi realizado pela estudante do 7º semestre do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental, Ana Queloene Corrêa, sob a orientação da professora Graciene Fernandes. A presença de coliformes significa que há condição de acontecer contaminação por doenças naquele ambiente.
Além da praia em frente a orla de Alter do Chão, a pesquisa analisou a água da praia do Cajueiro e da Ilha do Amor, que tiveram números inferiores. Na Praia do Cajueiro, o mês em que mais foram encontradas bactérias foi em abril, com 1.100 por 100 mililitros de água. Na Ilha do Amor, o mês de maio teve maior incidência, com 1.090 coliformes fecais/100 ml.
De acordo com o estudo, apesar do mês de março ter tido um pico que preocupa, a água ainda está propícia para a recreação. “Ainda não está naquele limite para se dizer que não pode mais entrar na água, mas já é bastante preocupante, porque está no nível de satisfatória, entre própria e imprópria”, destacou a acadêmica.
O artigo 20 da Resolução 274/2000 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) , classifica as águas destinadas à recreação de contato primário nas categorias próprias e impróprias. As águas próprias são classificadas como excelente, muito boa e satisfatória. Um dos fatores que podem tornar a água imprópria para a recreação é quando no trecho avaliado, o valor obtido na última amostragem for superior a 2.500 coliformes fecais. “As coletas eram realizadas mensalmente, assim como manda a resolução. Sempre coletamos nos mesmos locais, só respeitando a margem, então íamos um pouquinho mais a frente dependendo do nível do rio. Como coletamos durante todo um ciclo hidrológico, obedecendo a flutuação do rio, obedecemos a questão de um metro da margem. Assim a gente diminui os fatores de interferência nesses resultados”, explicou a professora.
Graciene explica que as altas temperaturas, crescimento da população, período de festividades, enchente, desmatamento da mata ciliar, despejo de resíduos sólidos e líquidos no rio, além da questão geográfica da praia são alguns dos fatores que contribuem para que o ambiente se torne propício para a proliferação de bactérias.
Além de Alter do Chão, a pesquisa também foi realizada nas praias de Pajuçara e Maracanã. Nesses lugares foram encontrados coliformes fecais dentro dos limites considerados normais para a resolução da Conama e para a legislação ambiental brasileira. “Graças a Deus o poder de diluição do nosso rio é muito grande. Muitos resíduos que são despejados direto no rio, que acaba se transformando em uma fossa, mas que tem um poder de depuração e diluição muito grande. Em Alter do Chão, aconteceu de registrar esse número porque existe toda uma situação ambiental e geográfica que permite isso. No Maracanã, por exemplo, é uma área mais aberta, o rio corre mais, então leva muito mais rápido os resíduos, então é muito mais difícil haver o crescimento microbiano ali”, comentou Graciene.
"Ainda não está naquele limite para se dizer que não pode mais entrar na água, mas já é bastante preocupante" Acadêmica, Ana Queloene Corrêa,
O contato com coliformes fecais pode ocasionar doenças como a hepatite A, febre tifóide, distúrbios gastrointestinais, entre outras.
Casos de hepatite
Neste início de ano, muitas pessoas procuraram o posto de saúde da vila com sintomas de hepatite, o médico acredita que o problema está relacionado, dentre outros fatores, com a infraestrutura da vila e a atracação de algumas embarcações na praia.
De acordo com a Divisão de Vigilância em Saúde (Divisa), até o dia 20 de janeiro deste ano, foram confirmados 11 casos de hepatite A em Santarém, deste total seis são de Alter do Chão. Em 2014, 117 casos da doença foram registrados, mas somente 12 foram na vila balneária.
Nesta semana, a Divisa realizou coleta de amostra em quatro pontos de Alter do Chão para identificar a qualidade da água. O material será encaminhado para Belém e o resultado deve sair em dois dias.
Saúde
Em nota, a Prefeitura de Santarém informou que após reunião na vila balneária de Alter do Chão, com a participação do Conselho Comunitário, Administração Distrital e representantes da Secretaria Municipal de Saúde (Divisa/Semsa), foi definida a execução de um plano com ações integradas por parte do Município, através de suas Secretarias, para sanar os casos de hepatite “A”, recentemente notificados.
Ainda segundo a prefeitura, a Divisão de Vigilância em Saúde (Divisa) e a Unidade de Saúde da Vila de Alter do Chão trabalharão em um plano de contigência, no qual serão executadas as seguintes medidas: imunização contra a hepatite A em crianças menores de 1 ano, palestras educativas à população e a comunidade escolar sobre as formas de transmissão da hepatite A, monitoramento da água para consumo humano em pontos estratégicos de Alter do Chão, coleta de material biológico em indivíduos pertencentes a grupos estratégicos para medição de IGG/HVA (anticorpos anti-HVA), curso de manipulação de alimentos para os profissionais do ramo e afins, distribuição de hipoclorito e orientação para o seu uso nas residências e estabelecimentos comerciais, vistoria em estabelecimentos sujeitos à fiscalização sanitária, captura de animais errantes e proibição dos mesmos no espaço da praia, além de parceria com outras Secretarias, órgãos e instituições públicas e privadas.
Saneamento básico
Ainda em nota, também foi informado, que através de projetos elaborados pela Prefeitura de Santarém, o Município aprovou via Cosanpa, junto ao Ministério das Cidades, dentro do PAC 2, R$ 148,5 milhões para ampliação do sistema de coleta e tratamento do esgoto sanitário que, somados aos investimentos em execução, deverá expandir significativamente a cobertura na zona urbana da cidade. Alter do Chão deverá ser contemplada com R$ 14,2 milhões para a implantação de sistema de coleta e tratamento de esgoto sanitário e de mais R$ 13,6 milhões para melhorias no sistema de abastecimento de água.
JK com informações do G1
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