segunda-feira, 6 de junho de 2011

O POETA DO TAPAJÓS

Joguem minhas cinzas no rio Tapajós
 
Santarém, ontem estive contigo  
E pisei a terra arenosa  
Dos teus translúcidos igarapés  
E caminhei nas águas  
Azuis e límpidas do teu rio  
De quimeras!

Sim, o incrível rio Tapajós, tributo aos índios
 
De mesmo nome, contemporâneos  
De Pedro Teixeira.  
Foi daí que entendi a razão do poeta,  
Seu êxtase, sua obsessão,  
Sua rendição...

Conversei longamente com teus
 
Filhos jovens e idosos,  
Todos orgulhosos de ti.  
Falaram do teu passado apoteótico  
E das tuas belezas naturais  
Que são tantas e intraduzíveis.  
Admirei sabê-los artistas e apreciadores  
Das artes.  
Intuí fosse pura coincidência,  
Mas, as evidências mo venceram  
E convencido aventuro-me a sugerir:  
“Seria o azul hipnótico do teu rio  
Ou a alvura celestial das tuas praias  
O motivo de esfuziante inspiração?”

Quis saber o porquê da revolta
 
Dos teus filhos à expansão da soja  
No teu solo de água e raízes  
E as respostas me vieram rápidas  
Como flechas e doídas como  
A morte: “sangria à mata e seus mananciais;  
O monopólio com suas mazelas;  
O colono escorraçado de suas terras  
E o poeta abatido sem versos de felicidade...”

E vi que estavam certos:
 
Foram-se os fósseis indígenas da Vera Paz.  
Em seu lugar, aterro, galpões, concreto e ferro  
E o egoísmo voraz e insaciável do capitalista  
E os versos do poeta enterrados sob os  
Escombros...

Percebi que muitos dos teus filhos
 
Já possuem consciência ecológica  
E isso é um fato perceptível em todo  
Este país, graças a Deus!  
E assim, ainda que vagarosa e silenciosamente,  
Entendem que a tua vocação é mesmo  
Ser a rainha, tal como nossos pais e avós  
Haviam vaticinado.  
Por isto tua feição muda para melhor,  
Embora os paradoxos acima relatados.

Mentes doentias, vontades pueris ou
 
Políticas vis arrancaram-te o mais  
Valioso dos teus dotes: o Teatro Vitória!  
Nefasto dia. Perda irreparável!  
Chorou o poeta, chorou o artista, os teus  
Jovens estudantes, todos choraram...

Ainda há tempo, Santarém, de resgatares maravilhas da
 
Tua história, do teu acervo cultural. Reconstrói  
Das cinzas o teu bem maior e  
Teus mortos dormirão em paz e  
Teus filhos te serão eternamente gratos.

Santarenos, povo sábio, sensível, privilegiado
 
Por Deus, não deixais enlamear-vos pela ganância Apressada dos invasores! Cresceis firmes no chão e  
Mostrais ao mundo que nossos pais e avós estavam certos. Mostrais sim, que Santarém veio dos céus  
Para ser reverenciada e amada por seus filhos  
E por todos que conseguem ver a importância  
E o sentido da natureza para o homem.

E eu, um modesto enamorado, mas sincero,
 
Irredutível e fiel não canso de te decantar.  
Só a morte pode abafar meu grito. E quando  
Esse dia chegar, peço-te: deixa que joguem as minhas Cinzas no leito tranqüilo do rio Tapajós!

Do poeta e amigo Paulo Paixão

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