sexta-feira, 13 de abril de 2012

CAPUCHO: UMA LENDA VIVA EM SANTARÉM E SUAS HISTÓRIAS

Na mesa do Bar Mascote, entre um gole e outro, Capucho, corretor de imóveis, figura memorável de Santarém, gesticula entre amigos que atentos acompanham mais uma de suas estórias quotidianas.

Capucho fala sobre um aniversário de um barão que ele esteve, e quando sentado ladeado de autoridades e figurões sociáveis, se manifestou sobre a maravilha que é ser convidado para uma festa de rico, farta e glamurosa. Então dizia:

– É o seguinte, olha só os pratos, os talheres, a comida sofisticada, a música de fundo... tudo aqui está combinando, até os vestidos das madames são bordados com os desenhos das toalhas das mesas... rê- rê- rê- rê!

E continua falando...

– Por deus manozinho eu não vou mais em aniversário de pobre, já me acostumei a coisa boa e encarar a pobreza não é mais a minha. Depois que a gente experimenta o que é bom, não cola mais ficar agradando pobre, só porque é amigo da gente...

Capucho aperta um gole, pede mais uma cerveja gelada para a Verônica, famosa garçonete do Mascote, na conta de um dos ouvintes da mesa e vai contando seu motivo de repudiar aniversário de pobre.

– Aniversário de pobre é no fundo do quintal, uma panelona de vatapá de frango, porque camarão empola cara de pobre, e o mais bacana é que o vatapá é servido no pratinho de plástico com colher de plástico do Mundo do Importados de 1,99, a dúzia.

A música é o pagode do Sarapó, rachando nas caixas, os pagodeiros cada um com uma gelada do lado, com aquela cara brilhosa de pão doce sapecando Michel Teló. As mesas são emprestadas da Cerpa, pirentas sem toalhas, e o garçom é a gente mesmo.

Aniversário de pobre é feito de dia embaixo de uma mangueira, para aproveitar a sombra, a cerveja é naquela caixa de zinco, que deixa a cerveja pixé de água podre porque fica mergulhada no gelo e o pobre toda hora lava mão com aquela água.

Pior que aniversário de pobre é o aniversário do filho do pobre, a molecada barrigudinha corre esbarrando na gente toda melada, tu olha para a cara do moleque ele ta com aquele catarrinho meio verde escorrendo de um lado do nariz.

Bolo de pobre é pitiú, por deus, eu não sei porque, mas todo bolo de aniversário de pobre é pitiú, recende de mapará assado, não sei porque...

Capucho se vira para o pagão da mesa e pergunta:

– Tu sabe príncipe? Porque bolo de pobre é pitiú?

Todos caem na gargalhada, eis que entra o Surdão saudando todo mundo do Mascote e a prosa muda rumo. Capucho se levanta e vai ao banheiro. A turma malha ele porque está liso, e não paga nenhumazinha sequer.

Fonte: Espalha Brasa

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