quarta-feira, 19 de setembro de 2012

CASO LUANE: MÉDICOS RESPONSÁVEIS PELA MORTE AINDA NÃO FORAM OUVIDOS

Por Sílvia Vieira

Passados quase cinco meses da morte da pequena Luane Caroline, 5 anos, o inquérito instaurado pela Polícia Civil para apurar o caso ainda não foi concluído. Os dois médicos que prescreveram medicação para Luane, o otorrino Edgar Bueno e o médico residente Rodrigo Chainni ainda não prestaram esclarecimentos ao delegado Jamil Farias Kasseb que está à frente do inquérito. Ainda falta fazer também, a acareação entre duas enfermeiras que acompanharam a menina durante o tempo em que ela esteve internada no Hospital Sagrada Família. Uma das enfermeiras afirma ter visto um técnico em enfermagem aplicar óleo mineral na veio de Luane. Já a outra enfermeira rechaça a acusação contra o técnico. 

Segundo o delegado Jamil Kasseb, os médicos Edgar Bueno e Rodrigo Chainni já foram intimados por duas vezes para comparecerem à Seccional urbana de Polícia Civil para prestarem esclarecimentos acerca do atendimento feito à menina Luane. Porém, nenhum dos dois compareceu até esta data e nem enviou qualquer justificativa. 

O delegado solicitou a prorrogação do prazo para conclusão do inquérito à Justiça, por considerar de fundamental importância os depoimentos dos dois médicos, bem como, a acareação entre as enfermeiras que apresentaram versões controversas sobre os procedimentos de um técnico em enfermagem. A prorrogação do prazo foi solicitada em julho, mas até 05 de setembro, a Justiça ainda não havia se manifestado. 

Quando o inquérito for concluído, o resultado das investigações será encaminhado ao Ministério Público que decidirá se oferecerá ou não denúncia contra os acusados. 

Ladilson Rego Campos e Luciene Vinholte Campos, pais de Luane, acusam o médico Rodrigo Chainni de negligência médica. Segundo eles, desde que assumiu o caso e mudou a medicação que havia sido prescrita pelo otorrino Edgar Bueno, o médico Rodrigo Chainni teria aparecido poucas vezes para avaliar a menina, inclusive no dia em que o quadro se agravou, ele teria sido chamado por várias vezes ao hospital, mas não teria dado assistência. 

Luane Caroline foi internada dia 31 de março no Hospital Sagrada Família após atendimento com a médica Andréia Joy que informou que o caso era de inflamação nos dois ouvidos e que a internação se fazia necessária. Como não conseguiu levar a filha ao especialista através do plano de saúde, Ladilson pagou consulta particular ao médico otorrino Edgar Bueno que prescreveu uma medicação, mas não retornou para acompanhar a criança. A partir daí, a criança foi então medicada pelo médico Rodrigo Chaini que teria se apresentado como pediatra. 

Luane faleceu no dia 16 de abril deste ano, após 17 dias de internação no Hospital Sagrada Família. No laudo é apontada como causa da morte de Luane "infecção generalizada". A menina era a única filha do casal Luciene e Ladilson. 

Frustração 

Em entrevista exclusiva à reportagem de O Estado, Ladilson Rego afirma ter tido conhecimento de outros casos de negligência cometidos pelo médico Rodrigo Chainni. “Por ver a impunidade prosperar, teve gente que já desistiu de seguir em frente com denúncias contra o médico. Tive conhecimento do caso de um rapaz que teve o pé atingido por um tiro em frente a uma casa noturna de Santarém há alguns meses. Ele foi atendido pelo Rodrigo Chainni no Hospital Municipal e conta que se dependesse do atendimento que ele recebeu do médico, teria perdido o pé. O caso chegou a ser comunicado ao Ministério Público, mas depois o rapaz acabou desistindo. Também chegou ao meu conhecimento o caso de uma senhora que teve um problema no braço e foi medicada pelo Rodrigo Chainni e em vez de melhorar, a saúde dela piorou. O que me deixa mais triste é saber que a minha filha não volta mais, enquanto isso, esse médico continua clinicando, prejudicando outras pessoas e ninguém faz nada”, desabafa. 

Segundo Ladilson, o Conselho Regional de Medicina foi comunicado sobre a denúncia feita contra o médico Rodrigo Chainni, através de um documento encaminhado pelo Ministério Público Estadual, através do promotor de justiça Túlio Novaes. “Quando dei entrada nos papéis lá no CRM, a pessoa que me atendeu disse que eu teria de esperar até 90 dias para ter uma resposta do conselho. Esse prazo vai encerrar agora em setembro. Se até a data final eu não receber nenhuma resposta do CRM, vou voltar lá de novo e cobrar uma posição, por que o conselho tem obrigação de apurar as denúncias que chegam até lá contra médicos, principalmente quando envolve morte, como é o caso da minha filhinha que tinha tantos sonhos e não pode realizá-los”, declara.

Enquanto aguarda o desenrolar das investigações acerca da morte de Luane e se será feita a exumação do corpo de sua filha, Ladilson e Luciene continuam convivendo com a dor de terem perdido a única filha. “Não há um só dia que eu não lembre, da minha filha. Vamos ao cemitério de segunda a segunda. Tem dias que dói mais, tem dias que a nós estamos mais conformados, mas essa dor não cessa. Eu sei que nada do que estamos fazendo vai trazer a Luane de volta, mas eu quero que seja feito justiça. Se alguém foi culpado pela morte da minha filha, eu quero que seja punido com os rigores da lei”, afirma Ladilson. 

O médico Rodrigo Chainni foi procurado pela reportagem para dar sua versão sobre o caso Luane, mas não foi encontrado em seu consultório na Av. Marechal Rondon, 1716, bairro Santa Clara. A secretária do médico informou que ele atende no horário noturno, mas que não pretende se pronunciar sobre o assunto. 

Fonte: O Estado do Tapajós

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