Geovane Farias
Voluntário ou “otário”? Nunca se viu com tanta intensidade apelos na mídia em prol do trabalho voluntariado como na atualidade. Mas infelizmente não se trata de um súbito aumento no comprometimento dos nossos atuais representantes políticos para com os cidadãos. Trata-se apenas de promover um evento futebolístico às custas da boa vontade e boa fé do povo. As necessidades de crianças carentes, pessoas famintas, idosos desamparados e outros desprivilegiados jamais foram capazes de sensibilizar o governo da maneira como a copa do mundo tem feito. Prova disso é o amplo incentivo ao trabalho voluntariado disseminado pelos meios de comunicação, o qual é visto somente as vésperas desse evento. Nessa triste e repugnante realidade fica visível que despertar a cidadania no povo em favor dos necessitados não tem importância, mas fazer bonito para os estrangeiros é tudo o que realmente importa para os governantes. É difícil imaginar pessoas dispostas a apoiar à postura do governo, mesmo assim existe gente se voluntariando. Dessa forma, é fundamental deixar para os defensores do trabalho voluntariado na copa o seguinte esclarecimento: os principais participantes da copa são jogadores e técnicos milionários e os expectadores dos estádios serão uma minoria de pessoas ricas e influentes - pois os ingressos são caros e de acesso restrito, ou seja, esse é um evento realizado por pessoas ricas e para pessoas ricas e ainda assim o governo tem a audácia de pedir para os mais carentes trabalharem de graça para quem tem dinheiro o suficiente para pagar. Isso é um insulto à inteligência do cidadão e uma provocação para quem organiza e participa de trabalhos voluntariados sérios e necessários. É de extrema importância convocar o povo para o exercício da solidariedade na realização de trabalhos não remunerados para o benefício de quem precisa, porque assim se formam verdadeiros voluntários. Ao invés disso, os governantes preferem explorar ainda mais pobres ao exigir trabalho grátis em favor dos ricos. Portanto, é importante verificar quais pessoas a boa vontade está favorecendo e se perguntar: estão procurando voluntários ou “otários”?
Geovane Farias, acadêmico da UFOPA

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